quinta-feira, novembro 25, 2010

Estalos

Sóbrio estou, moderadamente 
Podendo assim dizer-lhe a verdade, seminua 
Que sangra, crua, na rua, doce-amarga 

Sem rodeios, sem devaneios 
Sinto que sou agora o que almeijei nunca ser 
Sempre sonhei com o não querer 

A falta de objetivos acarreta no vazio da alma 
A alma vazia, num coração desconfiado 
Que fatalmente é traído pelos olhos de quem o carrega 

Fecho-os e silencio-me agora 
Tenho mais nada a dizer 
Faltam-me palavras quando tu me tiras o ar...

quarta-feira, novembro 24, 2010

Áquila

Quando eu te machuco, dói aqui 
Não percebeste que fazes parte de mim? 
Como me afastar, sem me dividir?
Como não chorar, sem te ver sorrir? 

Nunca mais, até eu me acalmar 
Nunca mais, até machucar meu ser 
Nunca mais, até a lua baixar 
Nunca mais, até eu te ver 

Como o sol quer a lua 
Minha vida entranhada na tua 
Somos escuridão e luz 
Que lutam, sem se vencerem 

Desistimos todo dia, de mentira 
Um hábito difícil de se largar 
Nos enganamos toda noite 
Achando que podemos andar sozinhos 

Não percebi que faço parte de ti 
Não percebeste que fazes parte de mim

Devaneios

Quando penso, sento e penso 
Eu viajo, me lembro e volto 
Assim eu canto, me lembro e vôo 
Por vezes desafino, me chateio e pouso 

Às vezes grito, exagero e forço 
Daí me acabo, me dá um troço 
Então me concentro e me controlo 
Descanso um tempo e olho a foto 

Relembro a época que era louco 
E peço a Deus que volte logo 
Caio em mim, me dá um nojo 
Desisto e rezo por algo novo 

De um sonho longo eu nunca acordo 
A mente flutua com os pés no solo 
Eu quero a bola, eu quero o jogo 
Eu quero ser feliz de novo

segunda-feira, novembro 22, 2010

Tropeços

Uma chance é o que tínhamos 
Podíamos desperdiçá-la apenas uma vez 
Quebramos as regras do jogo 
E tivemos mais chances do que merecíamos 

Uma noite é o que tínhamos 
Podíamos aproveitá-la apenas uma vez 
Quebramos as nossas caras 
E aproveitamos apenas as coisas fúteis 

Uma verdade é o que nós tínhamos 
Podíamos dizê-la para todo sempre 
Machucamo-nos acreditando nisso 
E descobrimos a mentira disfarçada 

Uma mentira é o que nós temos 
Podia sustentá-la para todo o sempre 
Machuquei-me demais acreditando nisso 
E descobri a liberdade na dor 

Escolhi a escuridão da solidão à redenção da conveniência 
Escolhi o sofrimento da verdade à ilusão da mentira 
Escolhi a frustração da realidade à perfeição dos sonhos 
Escolhi o tropeçar das minhas pernas a usar-te como muletas

Nós

Eu poderia escrever uma musica de amor 
Poderia até cantá-la no teu ouvido 
Mas não o farei 
Escreverei sobre a verdade, sobre o palpável 
Minhas linhas, minhas, te contarão a vida 
Do teu passado e até do teu futuro 
Coisas que te envergonham... e me enojam 
Ah, se soubesses como é fácil ser correto 
Como é bom deitar a noite e não ouvir os anjos revoltados

sexta-feira, novembro 19, 2010

Caminhos

Nos encontramos, e daí? 
Alguém está na contra-mão 
Quem? 
Sabemos quem nos merece 
Não quem nós merecemos 
Dois libertos da realidade 
Dois amantes do improvável 
Um pouco que quase bem 
Um bocado que sempre ases 
Nas nossas cabeças 
Achando que já tivemos “O” estalo 
Quando todas as respostas saem fáceis 
Mas não ouvimos todas as perguntas 

Nos desencontramos, e daí? 
Alguém está na contra-mão 
Quem? 
Sabemos quem não merecemos 
Não quem nos merece 
Dois presos na realidade 
Dois amantes da simplicidade 
Um bastante que quase mal 
Um pouco que sempre aprendizes 
Nos nossos corações 
Achando que nunca teremos “O” estalo 
Mas todas as respostas são incertas 
Quando é doloroso ouvir as perguntas

A piada

Sou triste, triste assim, de nascença, deve ser 
Sem motivo, aparente ou relevante 
De um jeito que até dá vergonha de ser triste 
Por ter mais que o necessário pra ser feliz 
E não ser 

Minha tristeza é pura e sincera 
Como o gostar de alguém de graça 
Como o amor verdadeiro que não tem explicação



Contudo, não a deixo transparecer para ti 
E não a vê

Lembra-te do palhaço
Que por não conseguir ser feliz 
Faz o mundo feliz 
Que por não conseguir sorrir para o espelho 
Te usa como espelho 
E precisa ver-se em teu sorriso 
Para ter esperanças de um dia sorrir por si 
Ou para que, pelo menos, 
Sinta-se menos desconfortável 
Neste mundo que parece não ter lugar pra ele 
Onde nem ele compreende a si mesmo... 

Assim, pelo teu sorriso, seria, serei, eu mesmo, a piada...