quinta-feira, outubro 28, 2010

Eu sou Flamenguista


Sou Flamengo, predestinado a sê-lo. Sou Flamengo por que sou, então, desde antes de nascer.

Eu não virei Flamengo, ninguém virou. Nem nossos antepassados irmãos-de-sangue-rubro-negro viraram Flamengo, dissidentes da empáfia pseudo-buguesa recalcada pó-de-arroz florida. Mesmo o motim que disse um basta aos tricoletes já era flamenguista antes mesmo do termo sequer existir.

O Flamengo nasceu para ser democrático, para acolher a qualquer um que fosse, sem distinção, preto, branco, rico, pobre, letrado, peão, mulambo e doutor.

Qualquer um que nascesse flamenguista estaria fadado à sofrer, ser maltratado, arrancar os cabelos por essa paixão irremediável, mas ser agraciado com o sentimento mais puro, desinteressado e sublime: o amor incondicional. Amor antes de tudo, ao Flamengo, e não às vitórias, mesmo que inúmeras. Amor, acima de qualquer um, ao Flamengo, e não só aos heróis que lá sempre estiveram, que também amavam mais ao Flamengo que a si próprios.

Heróis, aliás, criados em casa, forjados em raça, amor e paixão. Craques movidos pela tríade que alimenta o inexplicável, que desespera os adversários. Temidos por quem os olha nos olhos, surpreendendo quem os olha de cima.

Essa devoção é irritante, invejável, amedrontadora. O desdém pelo fácil, pelo óbvio e a tara pelo improvável e impossível causam um desconforto desconcertante em nossos detratores. Torcemos pelo time que cresce quando tudo está contra e perde quando tudo está a favor. Que não tem camisa, mas Manto, não tem hino, mas declaração de amor que inicia com a vida e acaba só com a morte.

Da mesma forma que amamos sem explicação, apenas pelo fato do Flamengo simplesmente existir, nos odeiam pelo mesmo motivo. Pelo Flamengo ser o que é e, é, sem explicação do que seja. Indecifrável enigma que atormenta o acordar e o dormir dos meros torcedores do resto.

Odiados por irmos contra as regras e jogarmos com 12. Odiados pelo nosso maior craque ser chamado de "o Pelé Branco" e ser um dos maiores artilheiros do mundo, sem nem ter sido atacante. Por sermos donos do Maracanã, um estádio que não devia ter dono. Mas tem, é o povo e povo é Flamengo. Por nunca cair, mesmo quando a queda se torna óbvia. Mas se esquecem de que uma frase construída com “Flamengo” e “obviedade” perde o sentido. Não nasceram para figurar na mesma sentença.

Pela áurea inexplicável que transcende qualquer ponderação, por esse lado místico, quase religioso, o Flamengo se difere dos demais. O Flamengo é uma força da natureza, um evento imprevisível, um ser sobrenatural... jogando futebol contra meros times e clubes.

E assim segue, por mais de cem anos. O mais querido, o mais odiado. O que tem 35 milhões de fiéis.

Extremamente agradecido sou por ter sido escolhido pelo destino para amar no limite da intensidade, por sentir o mais puro dos sentimentos que é amar sem necessitar de nada em troca.

Alguns amam uma mulher e com ela ficam. Outros amam a mulher e com ela vivem.

Assim, uns torcem por um time. Outros, são flamenguistas.

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