quarta-feira, outubro 20, 2010

O dia mais triste da história do Flamengo


Um Deus do Futebol, em seu merecido descanso no Olimpo da Bola, resolveu um dia juntar-se aos mortais.  Viu seu maior amor em perigo, teu ex-reino, e não mais aguentava vê-lo entregue a vândalos e ladrões de baixa estirpe que dilapidavam aquilo que ajudou a construir com suor, lágrimas, dribles e afeto.

Fora avisado por diversas vezes:  “se ousares descer de volta para de onde veio, descerás não mais como um deus, e sim como homem! Imunidade não mais terá!  Sangrará com flechadas pelas costas, sofrerá por palavras sem verdade, morrerá um pouco a cada dia... Esquecerão de teus feitos heróicos, de tua retidão, pois o Homem foi corrompido pelo poder e dele não abrirá mão.“

Apesar dos conselhos, seguiu seu coração. Zico optou por se tornar apenas Artur. Desceu de volta ao Reino da Gávea, sem espada, sem escudo, sem capa, sem mágica, sem coroa, sem nada de sobrenatural. Desceu com a vontade, com a determinação, com o amor. Abriu mão da adoração eterna, da intocabilidade, da onipresença, do endeusamento, apenas para nos salvar, para nos dar um futuro melhor.

Em pouco tempo percebeu que não era mais o herói que os súditos rubro-negros queriam, apesar de ser o herói que nós precisávamos. Lamentavelmente, não percebemos.
Aqueles que usurparam teu reino tinham um plano: não há forma mais eficaz de destruir um deus, do que fazer as pessoas perderem sua fé nele.

Assim, ele foi caçado, golpeado, difamado,  a honra de tua família foi atacada, apenas por ter lutado contra os planos sinistros e nada louváveis daqueles que transformaram e ainda transformam o glorioso passado rubro-negro em um presente negro. Por tentar mudar e devolver a glória e dignidade ao Flamengo, foi tratado como um qualquer.

Como se não bastasse, viramos as costas para nosso modelo máximo. Não o apoiamos cegamente e incontestavelmente como fazem os soldados de um exército. Não lutamos ao teu lado. Vimos nosso ex-deus, que agora sangra como nós, sem espada ou escudo, ser golpeado duramente por longos meses e apenas assistimos ao trágico espetáculo de vê-lo ser jogado aos leões...

Ó Zico, perdoai-nos! O que fizeste por nós jamais será esquecido! Tua coragem, teu exército de um homem só para sempre será lembrado. Teu nome ecoará pelos tempos como o maior guerreiro que vestiu a armadura preto-e-vermelha. Tu que lutou bravamente em campo, ainda jovem, ainda forte, ainda mágico, ao lado de outros 10 guerreiros, lutou também mais uma vez, fora dele, mas não aguentou sozinho uma luta desigual, baixa e covarde, de mãos limpas, abandonado pelo Décimo Segundo, nós.

No dia mais triste da nossa história, nossa fé de que o certo prevalece ao errado está abalada. Mas agora sabemos o que fizeste, temos noção do que abriste mão e o que enfrentaste. Agora sabemos do nosso erro.

Tardiamente, talvez, mas com algum pingo de esperança, juntar-nos-emos, seremos uma só voz e honraremos teu nome e o nome do Flamengo, que confundem-se na história. Você que nos deu tantas alegrias não merece a tristeza que este bando lhe proporciona. Jamais.

Que teu exemplo seja nossa inspiração. Que a Nação lute contra o que já devíamos ter lutado há tempos, com unhas e dentes, vestindo o Manto, entoando gritos de guerra e exigindo que nos seja devolvido o que é nosso, que tu ajudaste a construir.

Flamengo até morrer, eu sou. Nós somos.

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